Chapada Diamantina para os fortes

Coreto na praça central

Cidade tranquila, ladeiras e ruas de paralelepípedo 
Situada no sertão baiano, a Chapada Diamantina é um lugar mágico. Ruas de paralelepípedos, arquitetura rústica e casas históricas. Uma ida ao local é uma viagem no tempo, principalmente pra quem sempre ouviu sobre esse lugar desde pequena. Meu avô, natural de Lençóis, morou na região até os anos 40, quando se mudou para Mato Grosso. Com essa motivação a mais, partimos rumo as Férias 2016. 



A cidade das casas coloridas
Antes de tudo é importante saber que a Chapada Diamantina consiste em uma área de oito municípios, localizados a cerca de 500 km de Salvador. Os atrativos são relativamente distantes uns dos outros, por isso é bom decidir em qual município se hospedar, para evitar grandes deslocamentos.

Ficamos em Lençóis e encontramos nossos parentes que minha família não via há mais de 20 anos. Para chegar até lá, pegamos ônibus de Salvador (R$79) e sete cansativas horas de estrada. O município, segundo informações, é o mais estruturado da Chapada e o único que comporta todas as operadoras telefônicas.

Tio Antônio (93 anos), e os filhos Alcides e Maria.

Primas! 


Foto de fim de culto. P.s. Nem sabíamos que teria lanche.

A aventura está lá fora

Após ficar um dia (re) vendo a família, meu tio-avô de 93 anos (mais forte que eu), primos e filhos de primos, pessoas queridíssimas, andamos na cidade e conhecemos o Serrano, atração mais próxima à zona urbana. 


Repare na coloração dessa água e detalhe: limpíssima

No dia seguinte, optamos por fazer o passeio típico da Chapada. (Obs: Baixei o aplicativo da Chapada Diamantina no celular, por indicação de um colega de faculdade e deu muito certo. Recomendo!). Como estávamos sem carro, fomos com um guia e seguimos estrada afora. Primeira parada: Poço do Diabo. Para chegar ao destino final é necessário um preparo físico razoável, devido a descidas íngremes e a travessia do rio Mucugezinho, por entre as pedras. 

Meus pais ‘optaram’ por ficar no meio do caminho e curtiram o rio por ali mesmo, enquanto eu, o guia e a Fernanda, mais nova amiga de Salvador, descemos o trecho. Fomos em um sábado e talvez por isso, tinha muita gente que ia e vinha, mas nada que afetasse o espírito aventureiro.

Com muitas pedras, meus acompanhantes ficaram no meio do caminho do Poço do Diabo

Água gelada, profundidade de uns sete metros e a coloração igual a do Rio Serrano: cor de coca-cola. Conheço pessoas que tem pavor a rios que não consigam visualizar o fundo, por isso, para elas não é legal. Como não nos importamos demos um mergulho e partimos, já que teríamos ainda uns três lugares para conhecer nesse dia. Se estivéssemos com tempo de sobra toparíamos a tirolesa, que custava R$ 30. Ficou pra próxima.


Poço do Diabo - Essa coloração na água é a mesma do Serrano. Obs: Parece coca-cola


Pé na estrada novamente e agora para um destino mais longe: Gruta Lapa Doce. Enfrentamos uns minutos de ‘pause’ na estrada devido a uma obra que resolveram fazer no fim de semana, o que atrasou um pouco mais nosso passeio. Já chegamos na hora do almoço e resolvemos comer por lá mesmo.

O local tem uma estrutura com um restaurante muito arejado e bancos à sombra de uma árvore centenária, que ninguém sabe ao certo a idade. Descemos para a gruta logo em seguida, ao meio dia. Para chegar até a entrada da gruta é necessário descer muitos degraus. Haja joelho! #MeusPaisSuperParceirosAguentaram


Gruta da Lapa Doce: ta chegando

 Gruta da Lapa Doce - Apreciação de Estalactites e Estalagmites
No passeio é só alegria, a luz da lanterna, estalactites, estalagmites, um minuto de puro silêncio e escuridão, pra quem não tem claustrofobia tá tudo certo. Para sair, parecia que estávamos escalando escombros de um bombardeio. E na pressa de ver a luz, ouvimos pela primeira vez a famosa frase “Sem pressa, você tá na Bahia”,  maré que nos seguiu até o fim da viagem.

                                                      
Quando terminamos de subir, o maior exemplo de empreendedorismo que encontramos no Nordeste: uma barraca de água de coco. Depois de subir e descer, no claro e no escuro, tudo o que você quer é água de coco. Ideia muito boa que deve lucrar bastante.

Ânimos recuperados – partiu Pratinha!

Confesso que me decepcionei à primeira vista. A água, que pelas fotos se assemelha a um azul brilhante, estava esverdeada, talvez pela superlotação que agitava o lodo. Pisávamos o tempo todo em algas e essa não é uma das melhores sensações da vida. Estávamos convictos que a internet nos enganara, até que decidimos por saltar na tirolesa.

Avistando de cima, encontramos o local paradisíaco e por mais que estivesse em tons esverdeados, a vista é fantástica. Pena que apreciada rapidamente pela velocidade da tirolesa de 13 metros de altura. Foi aí que encontramos a Gruta da Pratinha, a parte turística do lugar, e realmente o tom da água longe de toda aquela agitação era um azul magnífico. 


Pratinha




Demos o último mergulho do dia para rumar ao Morro do Pai Inácio. Subimos metade do caminho de carro, pagamos a taxa de R$ 6 e terminamos a subida a pé. Apesar da trilha, achei mais tranquilo que o Morro de Santo Antonio (MT), por exemplo, que é mais baixo e mais íngreme.

O topo do Morro é enorme e por isso, vários grupos podem se reunir de forma individualizada, sem atrapalhar as outras turmas. Nem precisa falar que a vista vale a pena né. Pegamos o início do pôr-do-sol e não ficamos mais, porque nosso guia recomendou que voltássemos. Descer a trilha à noite, atrás de um mundo de gente não seria muito divertido.
Os cactos do Morro


À noite, depois de um bom banho, aproveitamos a ‘night’ de Lençóis. Restaurantes em uma encruzilhada de duas ruas, as mesas fechando o trânsito de veículos e lojas de artesanato abertas até às 21h para atender aos turistas que ficavam o dia todo nos passeios. Na noite anterior já tínhamos conhecido esse movimento todo. Sentamos em uma mesa na calçada e pedimos algo comum para não sair muito fora da nossa ‘rotina alimentícia’: Uma pizza, por favor!

Ela chegou e esperamos trazerem os pratos por uns 10 minutos, até que nos foi informado que comeríamos no guardanapo. Não temos frescura, mas quem é de Cuiabá sabe que pizza em guardanapo ou na mão mesmo, só em casa. Estranhamos, mas tudo bem né. Quando fomos pegar os pedaços que realmente sentimos a diferença. A massa parecia pão sírio e o recheio longe de toda aquela gordura e queijo escorrendo. Por cima, cubos de calabresa e frango desfiado. Na noite seguinte, repetimos. Devido a leveza, dessa vez foram duas pizzas para três pessoas. Barriga cheia, partiu descansar para o outro dia.

A "night" em Lençóis
“O poço”

O poço azul era o meu passeio mais esperado na Chapada Diamantina e até às 21h do sábado, não tinha grupo formado. Até que às 22h, o nosso guia informou que um amigo (todos os guias se conhecem e se ajudam) tinha duas vagas para o dia seguinte. Eu e a Fernanda já nos encaixamos e cedinho já estávamos de pé. 

Antes de destacar a beleza exuberante do lugar, vale ressaltar a estrada de terra, muito ruim. Segundo o nosso guia, são 10 km que parecem 100 km. Confesso que por várias vezes tive dó do carro que estávamos, por ser baixo demais. Na paisagem, casas de pau a pique, como nos livros de história, e de vez em quando, um adesivo pró-Dilma.

Essa atração era a única que aceitava cartão. Pagamos, vestimos o colete, tomamos a ducha, aguardamos a nossa vez, e descemos. O poço é localizado em uma gruta que acessamos após encarar uma escada íngreme de madeira. Já no primeiro degrau avistamos a uns 10 metros um poço de cor azul turquesa, cuja água é tão limpa que possibilita enxergarmos as pedras a uns 20 metros de profundidade, sob ela. Tivemos que tomar cuidado para tamanha beleza não nos fazer tropeçar e cair escada abaixo.


Flutuando e apreciando esse cenário fantástico avistamos uma abertura no topo, por onde os raios solares entram de abril a setembro, e incidem diretamente na água. Aquela paz fez o mundo parar de girar por 30 minutos. O melhor passeio que já fiz na vida e os R$ 30 mais bem gastos. Iria de novo sem sombras de dúvida. 
Poço Azul em outubro

Depois de muitas fotos e flutuação, partimos rumo a nossa última atração da Chapada: a Cachoeira do Mosquito. Antes, a parada pro almoço, que dessa vez contou com algumas particularidades da região: a Palma. Para mim, o gosto é muito semelhante ao da vagem, e diga-se de passagem é muito gostosa. Tivemos muitas oportunidades de experimentar, porque estava na farofa, refogada, misturada com a carne e etc. 


'Palma' pra toda obra

Lá vamos nós encarar mais 100 km imaginários de estrada de chão. Pagamos a taxa básica (R$15) e rumamos ao estacionamento, para enfim pegar a trilha. Não sei se era o acúmulo de cansaço ou a trilha era difícil mesmo, mas para chegar no pé da cachoeira, a gente enfrenta uma descida sem fim. Sofri no início, só imaginando a subida, que com certeza foi puxada.



A última atração

Apesar do esforço, a paisagem é incrível. A cachoeira é escondida tipo em uma rua sem saída, água gelada e pedras esculturais. Encerramos com chave de ouro e já deixamos espaço para retornar em breve.




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