Escrevo enquanto aprecio a lua da janela do ônibus, na estrada. Hoje o topo dela está achatado, mas lembrei da conversa que tive com um colega pela manhã. Ele disse o quão bela e cheia ela estava ontem à noite.O céu azul marinho contrasta com o seu tom amarelado. Visualizo do lado oposto ao qual estou sentada e de onde estou não percebo estrelas. Por vezes, a lua se esconde por trás das árvores ou é ofuscada pelas luzes de algum vilarejo.
É tarde e 90% das pessoas dormem. Os outros 10% devem estar quietinhos como eu, afinal só se ouvem os ruídos típicos da estrada: o atrito dos pneus no asfalto, a trepidação do veículo em algum buraco, o vácuo de carros que trafegam na direção contrária.
Poucos ou ninguém percebe a lua, mas ela está lá: linda no céu marinho. E vislumbrando o astro noturno, me pego refletindo sobre a quantidade de vezes que estivesse nessa posição: na estrada.
Há alguns dias, conversei com minha mãe. Ela se mudou uma vez na vida e na casa onde mora já está há 50 anos. Eu, com menos da metade de sua idade, já acumulo quatro cidades nas costas e cinco processos de empacotamento e desempacotamento de caixas.
Minha mãe viajou sozinha raríssimas vezes e a trabalho. Eu já perdi as contas de quantos quilômetros rodei estradas a fora. Conheço quase 70 cidades do Estado, grande parte por causa da profissão. Porém, as viagens solos, pra ir e voltar pra casa, como essa na qual estou agora, também são inúmeras.
Às vezes, fico orgulhosa da minha mãe pela estabilidade de se manter no mesmo lugar por tanto tempo.
E, às vezes, fico orgulhosa de mim por ter a coragem que muitos a minha volta não tem. Acredito que grande parte dessas minhas vivências sejam graças a ela assim como meus momentos de solitude. Mas faz parte. Os prós e os contras sempre caminham lado a lado.
A lua saiu do meu campo de visão. E apesar da escuridão na janela, eu sei que o céu continua um lindo azul marinho. Alguém, sentado em casa, o está contemplando nesse exato momento assim como eu estava, em movimento.
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