Sem papel

 
Por muito tempo, escrever foi uma válvula de escape de emoções. Escrevia tudo o que não tinha coragem de dizer seja de positivo ou de negativo. Mantive diários anuais dos meus 11 aos 20 e poucos anos, onde eu me expressava dia após dia sobre tudo de importante ou de irrelevante que acontecia. De declarações de amor a situações normais da vida.

Os cadernos guardam boas recordações por motivação própria e indicação médica, já que a psicóloga orientava sobre escrever para aliviar a carga. Mas alguns dias eram tão ruins que anos depois queimei várias folhas no intuito da lembrança se acabar assim como as cinzas. Desde então passei a me expressar de outras formas. Às vezes oralmente, às vezes em silêncio. Aprendi que nem tudo precisa ser dito nem ficar registrado.

A vontade de escrever de forma geral também foi se esvaindo com o tempo. Me concentrei para fazê-la apenas no meu trabalho, até porque era parte das minhas obrigações como jornalista. Com aquele talento concentrado nas atividades laborais, desenvolvi belos textos sobre outras pessoas, suas conquistas, seus feitos, seus sonhos e planos para o futuro, como conseguiram mudar de vida. Essa paixão continua: transformar uma simples conversa em um lindo texto para ficar registrado na história.

Mas sobre mim, tudo continua aqui dentro em uma nova organização de ideias que nem sempre vai para o papel e menos ainda é publicada. Nessa curta jornada da vida aprendi que a maioria das pessoas só querem inteirar da sua vida por curiosidade, não por preocupação. 

Sendo assim, deixemos os curiosos cuidar de outras vidas alheias.

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