Qual é o seu propósito?

 Era uma manhã de domingo e acabáramos de sair de um culto que passara essa mensagem: Você tem cumprido o seu propósito? Já há algum tempo pensava nessa pergunta e me questionava como faríamos para descobrir a famosa missão aqui na Terra, mas tudo ainda não passava de reflexão.

Ao chegar em casa, fiquei incumbida de abrir a porta e, misteriosamente, falhei nessa simples tarefa. Retirei a chave do lado contrário e a trinca simplesmente travou. A chave ia até certo limite, mas não abria mais a porta. Eu e o marido estávamos trancados para fora de casa. 

Em pleno outono, por volta de 12h, e uma temperatura nada amena, vimos aquela aura angelical pós-culto se esvaindo abruptamente. E no lugar dela, só o estresse por não poder sequer tomar um copo de água da geladeira presa do outro lado da porta. 

Estressado, com razão, o marido foi em busca do chaveiro enquanto eu tentava abrir a porta com alguma técnica que tinha visto em filmes, falhando miseravelmente, claro... 

Alguns minutos depois cansei de olhar para a porta e me virei para o portão. Um susto! À minha frente estava um senhor sexagenário, com camiseta e bermuda sujas de sangue. Antes de eu pensar qualquer coisa, ele se desculpou e fez o seu único pedido: ligar para a família ir buscá-lo.

Enquanto aguardava a pessoa me atender descobri o motivo dele estar ali: havia fugido do hospital. A parente do outro lado da linha ficou tão surpresa quanto eu, mas em um tom de: "De novo?" Não era a primeira vez que ele fazia isso. Segundo o idoso, as enfermeiras não sabiam monitorar direito. O soro acabara há horas e ninguém o liberara ainda. Ele, taxista há mais de 20 anos, sabia que já estava bem o suficiente para voltar pra casa e se deu alta. 

Ali à sombra da árvore de casa, além da profissão, descobri um pouco sobre sua família, sobre a casa onde morava, sobre o motivo de estar no hospital e que realmente não era a primeira vez que brincava de médico fazendo essa autoanálise sobre o próprio estado de saúde. Ou seja, não era nenhum santo, mas quem sou eu para julgar?

Independentemente do mérito de ser ou não salvo de perambular ao sol de meio-dia, me dei conta que foi providencial eu estar trancada pra fora de casa. Afinal, se eu entrasse nem o ouviria caso insistisse em pedir ajuda no meu portão. Claro, que outra pessoa poderia ajudá-lo, mas tinha quer ser assim. 

Nessa manhã de domingo, eu precisava estar ali fora e ajudar esse senhor. Eu precisava estar ali naquele exato momento. A gente precisava conversar sobre a sua vida e ele precisava encontrar alguém com um mínimo de empatia. 

A família veio e agradeceu, o chaveiro consertou a porta, entramos e curtimos o descanso como deve ser. Ainda tenho refletido sobre o propósito maior de vida, mas o propósito daquele domingo foi cumprido! E talvez seja isso... uma missão de cada vez!



Porque sou eu que conheço os planos que tenho para vocês', diz o Senhor, 'planos de fazê-los prosperar e não de causar dano, planos de dar a vocês esperança e um futuro.
Jeremias 29:11

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