Meus pais são casados há 34 anos e há 12 anos trabalham juntos.
Assim foi até 2019, quando ela teve aneurisma cerebral.
As máquinas para os consertos dos sapatos ficavam nos fundos da casa. Minha mãe debilitada precisava que alguém ficasse ao seu lado 24h por dia.
Meu pai abandonou os sapatos.
Agora seriam apenas malas, bolsas e bolas. Serviços que conseguiria fazer na parte de cima da casa, ao lado dela.
Com a recuperação dos movimentos, os médicos sugeriram que ela fizesse trabalhos manuais para ajudar no desenvolvimento do cérebro. Minha mãe foi "recontratada" pelo meu pai. Ganhou uma espécie de alicate e se tornou a "desmanchadora de costuras" oficial.
Hoje os dois trabalham na sacada, sentados, olhando o movimento da rua, vibrando pela quantidade de aviões que passam (o que trará mais serviço) e fazendo companhia um ao outro.
Ela com maior habilidade nas mãos para trabalhar com precisão no corte das linhas, ele com maior habilidade nas pernas para descer e atender os clientes.
Ainda estamos no mês dos namorados.
No meio de uma pandemia que separou tantos casais apenas por passarem mais tempo juntos, a união que deu certo deve ser celebrada.
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