Crônica "Toulousaine"

Place de la Daurade

Às vezes, eu fecho os olhos e me vejo sentada na Place de la Daurade vendo as crianças brincarem no parquinho que tinha um piso macio de borracha, ou admirando os casais apaixonados nas escadarias da Place St. Pierre. Estou cruzando com várias pessoas em dia de feira na Place du Capitole ou me deparo com uma multidão com sacola de compras na Rue d' Alsace Lorraine.


Rue d'Alsace Lorraine em dia de manifestação

 Atravesso a Pont Neuf em direção a Auchan e vou até o Jardin Raymond VI para apreciar o pôr do sol no rio Garonne. Olhando as águas fluírem, lágrimas também saem. Lágrimas de saudade de quem está do outro lado do oceano.


Vista da escadaria do Jardin Raymond VI

Enxugo o rosto, me levanto e retorno pra casa pelo Canal de Brienne. Pessoas fazendo atividades físicas naquela paisagem de tirar o fôlego me arrancam muitos sorrisos em não acreditar que eu estava ali de verdade.

Canal de Brienne


Mudo de ideia e pego o rumo da Compans Caffarelli, que me lembrava o Brasil com o Subway e o Mc Donalds, um ao lado do outro. Resolvo entrar no Jardin Japonais. É uma tarde de sábado no outono europeu e árvores de várias cores parecem miragens. Sento na grama, longe dos olhos do guarda, e observo aquele colorido de encher os olhos.

Jardin Japonais

Saio dali e passo pela Rue du Taur, entro em algum sebo, cujo dono é um senhor de idade francês. Converso um pouco até que ele começa a discutir com o amigo também idoso sobre quais os verdadeiros clássicos da Literatura. Saio discretamente e começo a olhar pra cima. Aquela arquitetura com tijolos avermelhados e uniformes, as casas e prédios um ao lado do outro com sacadas pequenas, mas repletas de flores. Porém, um cheiro agradável me faz voltar os olhos.
Vielas de Toulouse
Estou em frente a uma banca de crepe. Peço com Nutella, que pelo valor eu nunca tinha experimentado no Brasil. Na França eu me esbaldei. Na rua de casa, uma música alta, fora dos padrões franceses. Mas me lembrei, estamos em Toulouse, a cidade universitária que pulsa e vibra. Uma orquestra fantasiada no meio da calçada tocando qualquer sucesso pop norte-americano. A plateia de turistas e estudantes dança com a animação da banda, enquanto um dos integrantes entrega o panfleto com o endereço de onde será a festa.
Pont Saint Pierre

Chego em casa, digito a senha de acesso e entro no hall do prédio, que tinha uma escada com uma cadeira elevatória para pessoas com baixa mobilidade poderem subir sentadas. Até então, pensei que fosse algo exclusivo de filmes, mas descobri que ela realmente existe e funciona.

Gauffre holandês
 Abro as duas seguintes portas com chave Coloco as compras no chão do quarto. Esquento água no nosso único eletrodoméstico: o bule elétrico. Durante a infusão do chá, deixo um gaufre holandês em cima do vapor pra derreter o recheio de caramelo e me sento na mesa, olhando a cidade em movimento. Ouço barulho de helicóptero e penso: "São os gilets jaunes".

O céu vai escurecendo e resolvemos sair à noite pra tomar o melhor coquetel sem álcool da vida, que infelizmente tem um nome estranho: diabolo (nada é perfeito), e também para ouvir músicas latinas que ajudam as amigas da América do Sul a matarem saudade da salsa, que é muito mais difícil que o samba. Com o calor da aglomeração dentro dos bares e o frio da madrugada fora, pensamos bem e resolvemos voltar pra casa ficar aquecidas, sem dividir o espaço com tanta gente. Tomo banho e durmo.

Quando eu abro os olhos, fico feliz em saber que foi uma lembrança, não um sonho.

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