O tribunal da internet a todo vapor



Há algum tempo, os comentários tornaram-se mais atrativos do que as notícias. E nessa liberdade de expressão possibilitada pela internet, leitores expõem seus mais diversos pontos de vista. De elogios descarados a críticas incisivas, as páginas de notícias ampliaram a sua função de divulgar informações, para se tornarem um verdadeiro tribunal.

As opiniões não perdoam artistas nem desconhecidos, pretos ou brancos, ricos ou pobres. Um suspeito de qualquer crime tem sua vida destruída antes de provar sua inocência. Os juízes são estudantes, profissionais liberais, pais de família, servidores públicos, que se consideram mais poderosos que a Justiça e adiantam o julgamento, com base nos dados apresentados pela mídia. 

E a roda de fofoca da Dona Maria e dona Joana, que se sentavam na porta de casa com mais três vizinhas, ganha uma proporção enorme. Agora têm Josés, Marisas, Mohammeds, Amélies, Pauls, Peters e o restante dos 3,6 bilhões de pessoas com acesso a internet no mundo.

O júri não respeita nem a lei dos assuntos proibidos. Pelo contrário, "política, futebol e religião" chegam a pegar fogo nas redes. Divergências ideológicas são inaceitáveis. A nova regra é: 'Todos devem apoiar o mesmo partido político que o meu, ser da mesma religião que a minha e não fale mal do meu time de futebol'. 

As pessoas tem confundido discursos de ódio com liberdade de expressão. Para alguns, toda essa facilidade digital ajudou a propagar a maldade que já possuíam. Outros sequer se dão conta de que  leitor é um ser humano como ele. O olhar para o próprio umbigo tem deixado muita gente ofendida atrás das telas. Comentários impróprios de quem jamais se viu o rosto. 

Uma rede de ofensas ao alcance das mãos, dos olhos e do ódio, que ataca pessoas por meio da máquina. Como se lida com críticas tão severas? Como superar comentários tão baixos cujo autor sequer divulgou o verdadeiro nome? Alguns resolvem  nos divãs dos psicólogos, outros com um tiro no rosto. Os teclados de computador e as telas do celular tem cada vez mais sangue, por falta de respeito e excesso de uma liberdade utilizada para praticar crimes. 

Era mais fácil quando cada um fazia fofoca em suas próprias calçadas. A globalização, apesar de recente, tem se tornado uma arma letal, para quem não sabe controlar a língua.

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