O paraquedas e a ansiedade



Are you ready? 


“A psicossomática é uma ciência interdisciplinar que gera diversas especialidades da medicina e da psicologia, para estudar os efeitos de fatores sociais e psicológicos sobre processos orgânicos do corpo e sobre o bem-estar das pessoas.”!¹



Há alguns dias ouvi esse termo de forma mais peculiar, quando ao questionar um médico sobre uma falta de ar, fui informada que não haviam sido encontradas causas orgânicas. Com a ausência de fatores físicos, a origem daquele problema seria na mente, ou seja, uma doença psicossomática.

O laudo médico inocentava a asma, até então vilã daquele problema, e aliviava minha consciência por não sofrer dessa doença respiratória. Fui orientada a evitar situações que me deixassem ansiosa, ou procurar trabalhar a paciência dentro de mim, para que não apresentasse um quadro extremo de falta de ar. Foi então que o informei que estava a quatro dias de pular de paraquedas.

Ele sorriu, preocupado, para uma paciente maior de idade decidida, disse a sua opinião e me desejou boa sorte.Mais tarde conversando com amigos vi que não estava tão decidida assim, mas acredito que todos oraram para que eu voltasse viva e as orações felizmente deram certo.

Ao chegar ao Centro Nacional de Paraquedismo e ver o céu tão colorido de plumas que pousavam a todo instante, fiquei mais certa do que estava prestes a fazer: realizar um sonho de infância. Tentei despistar o nervosismo, mas a cada linha do termo de responsabilidade que líamos, eu e a Thau, amiga parceira que embalou junto nessa empreitada, ficávamos mais aflitas.

Parecemos tão serenas 

Disse silenciosamente e para mim mesma que não deixaria a minha mente acabar com um dos sonhos da minha vida e que se a solução seria controlá-la então eu conseguiria. O avião decolou e ajeitados ali um a frente do outro, parecia que o ar não era o suficiente. O macacão fechado até o queixo e os mosquetões apertados pra me conectar ao instrutor aumentavam essa sensação.

Resolvi olhar pra janela e lá embaixo uma vista linda se formava, o verde se desenhava entre árvores, plantações e margens de rios. Também avistei uma rodovia, que sequer lembro o nome. Olhando para a câmera disse o que o meu coração palpitava “A vista é linda”.

Chegamos aos 12 mil pés e todos começaram a se saudar desejando boa sorte. O ar que (na minha mente) já era mínimo foi a quase zero e eu começava a me ver em um desenho animado. Em um ouvido, a voz do médico sobre evitar esportes de aventura e no outro a fé de que tudo daria certo.

Até que abriram a porta do avião e um ar gelado me fez ouvir só a parte da fé. Aquele vento gelado tirou toda a sensação de preocupação, de falta de ar e eu vi que estava no lugar certo, fazendo a coisa certa, e disse pra mim mesma de novo que doenças psicossomáticas ou orgânicas não iriam me impedir de realizar algo.

Mas ele foi ferido por causa das nossas transgressões, e moído por causa das nossas iniquidades; o castigo que nos traz a paz estava sobre ele, e pelas suas pisaduras fomos sarados. Isaías 53:5

Chegou a nossa vez e não pensei em nada. De repente, a gente enfrentava um vento extremamente forte, mais precisamente a 220km/h. Fui reclamar de falta de ar e Deus falou “É ar que você quer? Então toma!” Enquanto isso, o instrutor tirando mil fotos e torcendo pra que eu estivesse fazendo pose.

Um minuto que parece uma eternidade, mas acabou. O paraquedas abriu! Gritei pela vitória sobre a mente, sobre o diagnóstico, sobre a ansiedade, pela vida, pelos sonhos concretizados, pela determinação, por Deus.

Chegando lá embaixo encontrei dois jovens senhores grisalhos felizes pela filha estar sorrindo de uma orelha a outra e com uma satisfação enorme por terem me apoiado. Os meus exemplos de fé e amor sempre.

Mas, buscai primeiro o reino de Deus, e a sua justiça, e todas estas coisas vos serão acrescentadas.
Não vos inquieteis, pois, pelo dia de amanhã, porque o dia de amanhã cuidará de si mesmo. Basta a cada dia o seu mal.Mateus 6: 33-34

Hora mais importante: Medidas de segurança pra você facilitar a vida do instrutor.

Depois que entrou no avião, só sai dele a 12 mil pés

Ver os coleguinhas da frente caindo como papel é uma das partes mais tensas.

Prestes a pular também


Mas depois é só alegria!

"220 km é a brisa que sopra
Sobre seu rosto,
Misto de alegria e aventura,
Medo e desejo.
A queda é a subida do êxtase
De estar alguns segundos
Pertinho do paraíso,
Onde as nuvens se confundem em si.
No ar, não há
Terra, nem céu
Tudo gira, tudo a contempla
Tudo a sustenta.
E a queda, não é queda.
É pouso de Fênix, ave
Que com seu Dorado
Cintila a terra, o céu e o mar."



Julio Bark 
poeta 


* Texto escrito em setembro de 2017.

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