A Sangue Frio de Truman Capote

“O material contido neste livro não é produto da minha observação direta. Foi colhido em relatos oficiais ou é fruto de entrevistas com as pessoas envolvidas no caso, entrevistas essas na sua maioria bastante demoradas. Visto estes ”colaboradores” serem identificados no texto, inútil se tornaria nomeá-los; no entanto, quero exprimir-lhes a minha gratidão sincera porque, sem a sua paciente colaboração, era impossível ter levado a cabo a tarefa”. (CAPOTE, 1965, p.3)




A declaração do autor ao início da leitura define o conteúdo da obra como jornalístico. Porém, após a leitura de 323 páginas repletas de descrições minuciosas, seja de ambientes, pessoas ou situações, é difícil acreditar que Truman Capote tenha extraído todas as informações dos relatos, sem acrescentar nenhum detalhe para trazer vivacidade às cenas.

O livro reportagem literalmente transporta o leitor à 1959, ano em que quatro membros da família Clutter, moradora do estado norte-americano do Kansas, é brutalmente assassinada. É impossível ler aos relatos sem visualizar o que está descrito detalhadamente. A comprovação se dá pela narrativa da cena do assassinato que somente é revelado após a descrição do cotidiano de Nancy, Kenyon, Mr e Mrs. Clutter, o que leva o leitor a imaginar que realmente não teria motivo aparente para o crime.

A dúvida se sobressai na narrativa dos assassinos, Perry e Dick, que são acompanhados desde quando chegam a Aldeia de Holcomb até os desdobramentos pós-assassinato. Uma das partes que chamam atenção é a descrição detalhada das atitudes que tomaram enquanto estavam no carro (Chevrolet preto), como a quantidade de bebida na garrafa de whiski antes e depois de Perry beber.

Capote levou seis anos para concluir a obra e conseguiu devido a instituições e pessoas a quem agradece ainda no início do livro, como Universidade do Estado do Kansas, Kansas Bureau of Investigation, Instituto Penal do Estado de Kansas e o jornal The New Yorker.

Abordando outra característica jornalística: as fontes. Seria impossível escrever uma obra com tamanhos detalhes sem a coleta de dados. E tal investigação é notável a cada página, visto que o jornalista menciona em forma de narrativa a personalidade da família Clutter, aos olhos de vizinhos, amigos e pessoas que mantinham contato com as personagens. 

Ler o livro “A Sangue Frio” é como se a todo tempo estivéssemos face – a - face com os assassinos. Considero o livro interessante, apesar de cansativo, devido aos exageros nos detalhes. A Sangue Frio foi o marco do jornalismo e até hoje levanta dúvidas sobre o gênero a qual pertence. Mas seja ficção ou realidade, o que importa mesmo é que independente da classificação, a descrição e a narrativa de Truman Capote são excelentes para todos aqueles que admiram um escritor esplêndido. Uma leitura que vale a pena.

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