Bullying - o lado da vítima


Em mais uma temporada de Netflix fui recomendada a assistir a um documentário que tratava sobre o Bullying, termo em inglês utilizado para definir atos de violência física ou psicológica. A terminologia é mais comum em ambientes escolares e apesar de ter sido instituída recentemente, as agressões não são de hoje.

Faço parte da geração Y, aqueles que nasceram na década de 90 e, portanto, viveram sua infância até o início dos anos 2000. Negra, do cabelo crespo, magra e intitulada nerd: eu era o estereótipo perfeito para ser vítima de bullying.

Já sofri preconceito por causa do meu cabelo, de características físicas, e por ser tímida. Saí da escola, formei na faculdade, tenho 24 anos e apesar de tudo, sobrevivi.

Foi essa sobrevivência que formou a minha opinião sobre o bullying. Afinal, minha mãe passou por isso na década de 60 por ser magra demais, eu por causa do cabelo no início de 2000 e outras milhares de pessoas, que hoje contam essas histórias rindo, às vezes tornaram-se até amigas dos antigos agressores.

Mas nem todos sobrevivem, nem terão filhos pra contar sobre as histórias da época de escola, não vão levar seus pais para a formatura entre tantas outras realizações. Crianças que decidiram que a melhor saída seria o suicídio e deram fim a essa pressão moral e psicológica, pelas próprias mãos.

Eles sofreram preconceitos no ambiente escolar, deram cabo a própria vida antes mesmo da maioridade. Ver essas jovens vidas ceifadas por causa de brincadeiras de mau gosto, nos leva a enxergar as famosas “zueiras”, por outro lado. Pelo ângulo daqueles que não suportam as chacotas.

Pode ser somente uma crítica ao cabelo, ao tom da pele, a um nariz maior, que na visão do agressor não é tão séria. Mas ouvir nomes pejorativos como magricela, orelha de abano, rolha de poço, carvão, cabelo de vassoura, bocão, pode afetar muito aquele que ouve, por mais que não transpareça e até mesmo sobreviva.

O que falta na criação das crianças desde sempre é o ensinamento sobre o respeito como peça chave do relacionamento. Crianças que não aceitam as diferenças físicas de seus colegas, podem se tornar adultos que desrespeitam o outro em uma esfera maior: a psicológica, e serem péssimos exemplos para os filhos, o que somente daria força a esse círculo vicioso.

Com certeza os agressores retratados no documentário não serão esse tipo de adultos. A lição que aprenderam deve ter sido dura demais para que possam repetir a dose.

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