Vivemos em um tempo dividido entre aqueles que defendem a legitimidade de um governo que está no poder desde 2002 e grupos vestidos de verde e amarelo com placas e faixas revolucionárias. Tais manifestações não são inéditas num país que há 32 anos enfrentou o maior movimento de apelo à democracia, denominado Diretas Já¹, que resultou anos depois em eleições diretas para as principais representações do país.
Para chegar a esse patamar, passamos 21 anos de ditadura pelas forças militares², em que a imprensa era censurada, os artistas impedidos de manifestarem um ponto de vista arbitrário e a população de simplesmente eleger seus representantes.
Nascida em 1991, ano anterior ao primeiro impeachment da América Latina³, cresci ouvindo saudosismos à essa época e de como os trâmites eram mais ágeis. Os elogios vinham de um senhor garimpeiro que saiu do sertão da Bahia para o norte de Mato Grosso e cujo contato mais direto com o governo era por meio da rádio estatal.
Não culpo meu avô por não perceber a máscara da propaganda para encobrir a repressão, por isso, não o contrariei até seus 98 anos, quando levou consigo todo o pensamento defensor desse regime. Mas ler cartazes escritos "Intervenção Militar Já!", nas mãos de pessoas com acesso à livros de história, é uma ideia quase inconcebível de engolir.
Da mesma forma ouvir aplausos a políticos que prestam homenagens a torturadores de cidadãos que se opunham ao regime imposto goela abaixo dos brasileiros, enoja qualquer ser humano consciente da trajetória de sua nação. A esses, uma cusparada torna-se uma afronta à saliva, que caso personificada, também rejeitaria acabar seu tempo de vida no rosto direcionado.
Resta, então, a nossa última gota de esperança, que também deseja um futuro mais digno ao nosso país. Destino que não reviva os erros do passado, mas que aprenda com eles. Independente de partido vermelho, verde, amarelo ou azul, queremos o melhor para o Brasil. Afinal, o que pouco importa agora é cor, somente não queremos viver um déjà vu.
"Quando a ditadura é um fato, a revolução é um dever" - Filme "Trem noturno para Lisboa"
Trechos de pesquisa superficial no Wikipedia:
¹ Diretas Já foi um movimento civil de reivindicação por eleições presidenciais diretas no Brasil ocorrido em 1983-1984. A possibilidade de eleições diretas para a Presidência da República no Brasil se concretizaria com a votação da proposta de Emenda Constitucional Dante de Oliveira pelo Congresso. Entretanto, a Proposta de Emenda Constitucional foi rejeitada, frustrando a sociedade brasileira. Ainda assim, os adeptos do movimento conquistaram uma vitória parcial em janeiro do ano seguinte quando Tancredo Neves foi eleito presidente pelo Colégio Eleitoral.
² Ditadura Militar no Brasil - De caráter autoritário e nacionalista, teve início com o golpe militar que derrubou o governo de João Goulart, o então presidente democraticamente eleito. O regime acabou quando José Sarney assumiu a presidência, o que deu início ao período conhecido como Nova República (ou Sexta República). Apesar das promessas iniciais de uma intervenção breve, a ditadura militar durou 21 anos. Além disso, o regime pôs em prática vários Atos Institucionais, culminando com o AI-5 de 1968, que vigorou por dez anos. A Constituição de 1946 foi substituída pela Constituição de 1967 e, ao mesmo tempo, o Congresso Nacional foi dissolvido, liberdades civis foram suprimidas e foi criado um código de processo penal militar que permitia que o Exército brasileiro e a Polícia Militar pudessem prender e encarcerar pessoas consideradas suspeitas, além de impossibilitar qualquer revisão judicial.
³O impeachment de Collor se desenvolveu ao redor do processo de impeachment contra o então presidente brasileiro Fernando Collor de Mello. O empresário Paulo César Farias foi tesoureiro de campanha de Fernando Collor de Mello e Itamar Franco, nas eleições presidenciais brasileiras de 1989. Foi a personalidade-chave que causou o primeiro processo de impeachment da América Latina, em 1992. O processo, antes de aprovado, fez com que o presidente renunciasse ao cargo em 29 de dezembro de 1992 , deixando-o para seu vice Itamar Franco. Mesmo assim, os parlamentares reunidos em plenário para a votação do impeachment, decidiram que o presidente não poderia evitar o processo de cassação, pela apresentação tardia da carta de renúncia.' Collor ficou inelegível durante 8 anos. Acusado por Pedro Collor de Mello, irmão do presidente, em matéria de capa da revista Veja, em 1992, Paulo César Farias seria o testa de ferro em diversos esquemas de corrupção divulgados de 1992 em diante.
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