Relações de Trabalho: Aprendemos em livro?




Regina Casé nunca me atrairia para um cinema, mas a campanha dos estudantes de Comunicação Social da UFMT foi tão grande para trazer o filme pra Cuiabá – totalmente fora do eixo de cultura do país – que me comoveu e o escolhemos como “filme da semana”.

É um longa metragem que conta a história de Val, nordestina que trabalha como empregada doméstica em São Paulo, e por precisar do dinheiro para sustentar a filha no Nordeste, fica anos sem vê-la, até que um dia a garota se muda para a mesma cidade que a mãe, para prestar o vestibular.

A mãe submissa não se senta à mesa com os patrões, não toma o sorvete do herdeiro da casa, nem jamais entrou na piscina da mansão. Diferente da filha, que logo ao chegar, troca o quartinho dos fundos de empregada, pela suíte de hóspedes da casa principal, fazendo refeições na sala de jantar e sendo servida pela dona da casa, que se mostra nem um pouco confortável.

E a pergunta que foi crucial para que eu considerasse o filme como um bom retrato da realidade foi feita pela jovem nordestina. Afinal, onde aprendemos todas essas regras de relação patrão-empregado? “Está escrito em algum livro?”

Não precisamos estudar para saber que em um ambiente de trabalho há certas situações que estão escritas em contrato e outras que estão no subconsciente. Não se trabalha com roupas curtas nem transparentes. No ambiente de trabalho nada de excesso em maquiagem, nem de muita conversa. 

Nesse quesito, outro filme que aborda a questão é "Histórias Cruzadas", que rendeu um oscar de melhor atriz coadjuvante pra Viola Davis (maravilhosa). Afinal, há certos limites entre um patrão e uma empregada e se analisar essas duas produções, a essência da exploração continua a mesma, apesar das épocas retratadas serem distintas.

Para fechar o filme com chave de ouro, o longa representa a ascensão da classe baixa, por meio do esforço e dos estudos e o quanto tal espaço conquistado incomoda a burguesia. Parecem histórias reais do dia a dia, mas é um longa metragem, diria que um filme que ultrapassa a dimensão da tela.

Texto de 20 de outubro de 2015.


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