"A travessia" - O filme

Para ser sincera, a primeira impressão que tive ao ouvir falar, é que esse filme seria o cúmulo do tédio. Ficaria duas horas da vida assistindo um louco, indeciso bem na hora H, sobre desistir ou não de suas metas, cheio de flashes do passado, para preencher o tempo ócio dos telespectadores ou nossa disposição em ver um filme. 

Primeiro, a história é baseada em fatos reais, então, imaginei que não haveria cenas excepcionais, apesar de em todos os filmes existir a versão do autor, a verossimilhança. Segundo, o que de extraordinário poderia acontecer em cima de uma corda? Terceiro, provavelmente, os pensamentos e lembranças do personagem, seria o que restara para o autor trabalhar. Isso foi um ponto que me pegou, gosto de trabalhos com ideologias expressadas em atitudes, principalmente, as motivadoras. E por último, já que as universidades aqui em MT continuam em greve e as aulas não voltam, um filme com amigos cairá muito bem. Sem tantas expectativas, seria mais fácil me surpreender.

O trailler foi o suficiente para zerar meus pensamentos.

Cena de Joseph Gordon-Levitt em "A travessia"

O que você faria se o seu sonho fosse uma loucura? Sem contar, ilegal. E se a coragem ou o medo já não importassem e você chegasse no meio de um caminho em que não pudesse retornar? Não por filosofias massantes de vida, mas, porque, qualquer erro seria fatal e resultaria em sua trágica e esmagadora morte, uma queda de mais de 400 metros de altura bem no coração de Nova York. 

O filme é narrado pelo próprio Philippe, o que nos deixa a par de todos os detalhes.

Cena de Joseph Gordon-Levitt em "A travessia"

A qualidade do filme é excelente e essa cena me deixou em êxtase. Perfeita!

O silêncio, o céu, o som do vento, só um parisiense equilibrista voando em seu sonho mais alto. Um turbilhão de pensamentos, completamente, ignorados. As torres do World Trade Center sendo palco de um espetáculo. Os policiais, mesmo no topo das torres mais altas do mundo, pareciam estar no chão.  Nem o indício de tempestade e o furo no pé direito conseguiram estragar ou tirar a excelência do momento de um homem.
Para Nova York como platéia, só restou se calar e admirar um louco talentoso que tinha um dom, o de sonhar e ultrapassar os limites racionais para realizar seus objetivos.

O chão para apoiar as torres, a torres para suspender a corda, a corda para indicar o destino, o homem para ignorar a morte e fazer seu show sem perder o bastão.

Mas .

Mas esse momento não existiria sem a coragem, inteligência e ambição do equilibrista e a força, ajuda e perfeita sintonia de seus assistentes, seu mentor Rudy e amigos. Philippe não iria tão longe se fosse um egoísta solitário. Eles planejaram juntos como driblar os seguranças, que disfarces usar, como carregar e montar os equipamentos  e mesmo sem certeza, foram até o fim, registrando tudo, como fiéis espectadores. 

Em nossa vida, nada vai pra frente se não existir o outro. Quer ver? Se não tivesse trabalhadores em uma empresa de cabo de aço, Philippe teria que se contentar com seus malabarismos, se não existissem os mestres de obra, pedreiros e engenheiros, para erguerem os arranha-céus, Philippe continuaria lá embaixo, a poucos metros do chão, se não existisse alguém para criar um simples bastão, não seria possível se equilibrar, se não existisse a cidade e seu povo, não haveria um cenário tão deslumbrante, sequer uma platéia tão perfeita. Pessoas são incríveis!

A travessia aconteceu em 7 de agosto de 1974, na ilegalidade, e ganhou repercussão em todo o mundo. Após o espetáculo, Philippe ganhou uma carta de autorização de acesso livre à cobertura das torres, com validade "para sempre", uma eternidade que infelizmente terminou em 11 de setembro de 2001.

Philippe Petit

Assim nós, que somos muitos, somos um só corpo em Cristo, 
mas individualmente somos membros uns dos outros.
Romanos 12:5

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