
Ambas são situações graves, mas a
primeira me deixou mais chocada. Sou negra, neta de garimpeiros negros por
parte de mãe e de escravos e índios por parte de pai, e namoro um rapaz branco
que tem uma avó negra. Com a miscigenação de raças existente desde antes de o
Brasil receber esse nome, acredito que não haja um brasileiro nato que seja
branco legítimo, sem nenhuma descendência mulata, cafuza, mameluca, indígena,
negra, europeia, dentre outras.
Claro que em toda regra tem
exceções e nesse caso, eu considero que devem ser raríssimos casos de brasileiros
“amiscigenados” (neologismo proposital). Com uma descendência tão diversificada,
não compreendo como alguém tem a ousadia de chamar uma negra de escrava e
comparar sua casa a uma senzala, em pleno século XXI. Se acontecesse comigo,
também choraria e de raiva por meus próprios conterrâneos adotarem uma postura
tão preconceituosa.
Já o caso do goleiro Aranha... Podemos
considerar que a Justiça foi feita (com a exclusão do Grêmio na Copa do Brasil)?
Não sei se podemos chamar dessa forma. O ato não foi exclusivamente racial, foi
uma provocação de torcida como sempre ocorre em todo o jogo, mas que dessa vez
infelizmente apelaram para cor da pele.
A minha primeira vez em um
estádio foi nesse ano e vibrar com o jogo, ali presencialmente, proporciona uma
onda de euforia, que vai desde xingar juiz, goleiro, atacante, zagueiro,
torcida adversária, dentre outras características do Comportamento de Massa,
definido por tantos teóricos tanto do meio filosófico ou comunicacional.
“A massa separa o homem da sua própria essência, arranca-o das suas
raízes espirituais, deixa a sua alma à mercê de uma multiplicidade de ventos e
correntes, que a levam para muito longe das coisas essenciais e a rompem por
dentro” ¹.

Tenho dó dela e deixo claro que
isso não é defendê-la. Mas será que colocar na cruz uma jovem branca, ao invés
de filmar o negro, a alguns metros, que também estava chamando Aranha de “macaco”,
também não é uma forma de preconceito? Afinal, esse ato não foi exclusivamente
racial (como já disse), foi uma provocação de torcidas, infelizmente da pior
maneira.
Que a moça, o grêmio e as punições aos 50 envolvidos nos comentários racistas contra o casal de MinasGerais sirvam de exemplo, para que após 514 anos do início dessa miscigenação,
todos enxerguem que independente de cor da pele, somos o mesmo povo.
¹ (PALAJSA, Stjepan. O Reino da
Massa. Disponível em: http://www.nova-acropole.pt/a_individuo_massa.html.
Acesso 04 set. 2014).
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