O clube do Imperador

            Aparência normal, tudo no lugar. Dia tranquilo.
            Após alguns afazeres, nada melhor que assistir a um filme.
“O clube do imperador” (2002) se passa em uma instituição interna de ensino da tradição inglesa só para rapazes da alta sociedade, colégio St. Benedict’s americano. Retrata a história de um respeitado professor, William Hundert, possuidor de um grande êxito profissional, que se depara com diversas situações ligadas a questões como, até aonde o ser humano pode chegar e se comportar como tal, passando por experiências de muitos conflitos.
Em uma análise axiológica, o tradicionalismo baseia-se na valorização do ensino humanístico de cultura geral, do esforço do professor, da organização lógica do ensino, da disciplina escolar, da aprendizagem do aluno, da transmissão, preservação e retenção dos conteúdos do ensino, dentre outros. (Informações do texto: Educação Profissional e Suas Bases Axiológicos)
No ensino tradicional, o professor é apenas um instrumento mediador entre o aluno e o “modelo de ensino”, aquele considerado ter os métodos mais seguros. Segundo Émile Durkheim (L’éducation morale. Paris, Félix Alcan, 1925, p. 127): “... ele é o intérprete... e é por seu intermédio que a aproximação (entre a criança e o social) se tornará possível”, já nas palavras de Château, o papel do professor é de “[...] um treinador que vigia, dirige, aconselha, corrige”.
Hundert é um docente apaixonado pela História Antiga, matéria da qual leciona há muitos anos, tentando orientar e modelar os alunos, ao utilizar os exemplos dos personagens históricos, como filósofos gregos e imperadores romanos, mostrando estar sempre rígido em relação aos valores, ética e condutas morais.
William tem incômodos com a chegada de Sedgewick Bell. Sedgewick foi criado com uma educação equivocada, filho de um Senador muito respeitado e quase sempre ausente na vida do filho, não se importando com a opinião nem com os problemas deste, e por isso, o coloca no colégio querendo apenas resultados sem se importar com os meios, despertando instintos negativos no garoto. O professor passa a querer tentar moldar a personalidade de Bell, mas é bloqueado pelo pai que diz ser o único competente a isto, e mais, que o papel do professor é apenas ensinar e mostrar resultado, o professor então se depara com a ignorância do homem.
Mesmo depois de conversar, Hundert continuou alimentando esperanças em Bell, por achá-lo inteligente e esperto, embora a tantas rebeldias, o professor pensou que ele pudesse ter um futuro brilhante e se tornar um exemplo, até passou por cima de seus princípios, aumentando a nota do aluno, fazendo com que este ocupasse a vaga de outro, em um concurso chamado de “Concurso Senhor Julio Cesar”, ao qual ele mesmo criou há muitos anos, porém foi um fracasso, sem esforço nenhum para se dedicar, Sedgewick colou no concurso, desonesto, trapaceou enganando a uma platéia inteira, mostrando usar sua capacidade racional para obter vantagens das situações.
 Nesse caso, as condutas de regras e os princípios herdados do pai tiveram um peso maior, mostrando a importância da educação da família nos diversos aspectos de nossa personalidade, além disso, com uma boa educação temos maiores tendências a uma boa índole e a fazer o bem.
Como se não bastasse, William Hunterd passa pela mesma situação, porém como vítima, ao perder a diretoria para uma pessoa jovem e sem tantas experiências apenas com fins lucrativos, mostrando que a esperteza de seus companheiros se sobrepôs ao seu caráter, sua honestidade e os seus valores.
 Muitos anos mais tarde, houve uma cópia do ”Concurso Senhor Julio Cesar” na casa de Bell, que novamente colou sem remorsos, e William além de participar e mais uma vez se decepcionar, contou ao aluno, a quem tirou a muitos anos atrás do concurso colocando Sedgewick em seu lugar, que se arrepende pelo erro e o aluno o perdoa colocando seu filho para ser aluno de Hundert.
O professor levanta uma questão para Bell, sobre quem ele realmente é, por ele viver em trapaças, em uma vida sem virtudes e sem princípios, e Bell o ignora, sem saber que seu filho ouviu tudo e se decepcionou com isso. O momento mostra que o desafio terá outro rumo, o de Bell para com seu filho. É, aqui se planta, aqui se colhe. 
O filme nos deixa a seguinte indagação: até aonde vale o modelo de ensino tradicional? Porque a Sedgewick não teve efeitos, além disso, nos faz refletir sobre alguns pontos particulares, como a própria personalidade.
O caráter é formado acima de tudo pela ética, pela moral e suas práticas e vai se desenvolvendo conforme os anos, a educação, as experiências e os valores dados a esta.
Partindo de uma psicologia de senso comum, não é passando a mão na cabeça que se corrige um problema. O professor deve sempre preservar e pregar os princípios, sem deixar de lado as suas condutas morais e a sua ética, pois, antes de exigir dos outros, deve cobrar de si mesmo, deve ser exemplo, pessoa a quem podemos nos espelhar. Responsabilidade e competência são qualidades ao qual aderimos a um lecionador, quem precisa procurar o melhor meio para ajudar, convencer, auxiliar se for preciso, influenciar seus aprendizes, esta é uma forma de resolução de conflitos, assim como no caso de Sedgewick e Hundert. 


“Todos nós, em algum momento, somos forçados a nos olhar no espelho e ver quem realmente somos.”

William Hundert




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