Está tendo Copa (mesmo as)sim


Na segunda-feira estive no Pronto-Socorro Municipal de Cuiabá e como acompanhante tive de dividir o espaço daqueles estreitos corredores com pacientes em suas macas, alguns enfaixados, outros com sondas, seus respectivos acompanhantes e suas caras de cansaço. Na sala de raio-x, uma mulher pediu informações sobre ressonância. O ritual de resposta teve uma troca de olhares entre os técnicos e uma risada sarcástica, antes do veredicto final dos especialistas que foi enunciado com uma história. “Senhora, uma vez, a ressonância demorou tanto que quando ligamos para avisar da liberação a ‘vózinha’ já tinha falecido (risos). Me desculpe, mas não posso mentir pra senhora. Assim é o SUS”.  Mas tem Copa.

O rosto da mulher já pouco iluminado ficou totalmente sem brilho e uma voz sem esperança disse que iria dar entrada nos papéis independente do tempo que levaria. Ela é apenas uma das várias pessoas que também dependem das eternas filas do Sistema Único de Saúde. Fiquei aproximadamente duas horas aguentando um fedor constante e uma bagunça setorialmente organizada, mas não escrevi para por culpa em ninguém, nem no técnico graduado em Educação Física que abriu mão do seu diploma pra conviver diariamente com aquela realidade. A culpa não é dos técnicos, enfermeiros, médicos, nem do atual prefeito. E nessa de “não é problema meu”, o problema prolonga por anos.

Por fim, minha amiga teve alta. Saímos dali, andei pelas ruas centrais, avistei turistas felizes tirando foto na Igreja Matriz e me lembrei da Copa. Em todas as entrevistas que acompanhei, russos, coreanos, chilenos e australianos amaram a cidade, o povo hospitaleiro, o clima suportável e a noite badalada, o escaldado, o peixe, o Chopão, a Praça Popular, até o aeroporto.

E como espectadora do jogo de Rússia e Coréia (um dia depois), na Arena Pantanal, fiquei feliz que eles estejam apreciando a cidade. Em conversa com uma coreana e treinando meu inglês além do “Take a picture, please” ela disse que Cuiabá é muito agradável e que está gostando muito, tanto da cidade, como do país, visto que é a primeira vez que visita o Brasil. A próxima parada é Porto Alegre, onde a Coreia jogará contra a Argélia.

Além deles, tinham samurais, russos alvos mais que a neve e os australianos que surpreendentemente ainda estão por aqui. Enquanto assistia ao jogo fiquei emocionada e feliz por Cuiabá ser palco de um evento tão reconhecido internacionalmente. Não vou ser hipócrita, ao ponto de considerar a Copa ruim, afinal, o legado será muito grande, principalmente em 2016 quando todas as obras acabarem.

Turistas serão sempre bem-vindos e a economia do Estado, e atualmente da FIFA, agradecem. Uma pena que no pronto –socorro não tem Copa que dê jeito. Da porta pra dentro é a mesma Cuiabá de sempre, sem leitos suficientes, infraestrutura, higiene, ressonâncias, nem culpados. Quem sabe no futuro, Cuiabá pleiteie uma Olimpíadas e o campo da saúde também seja beneficiado. Assim, poderemos atender os turistas pelo SUS, até quando precisarem de uma ressonância. Enquanto isso, curtimos a Copa nos pontos estratégicos onde o "espírito de Copa", de fato, existe.


Irmão ( o de sangue)

Aquecimento dos times pré-jogo


Australianos e Coreanos rumo a Arena Pantanal

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