A pedido de leitores...

Com Paula Fernanda no Sesc Arsenal


Falar muito sem falar nada. Expor e se esconder. Essa capacidade é de poucos que conseguem mostrar trechos de suas vidas com breves contextos cotidianos. Assim, como uma lanterna coberta por um cobertor, o escasso brilho visto por sob o tecido nem se compara a luz que brilha no contato direto com os olhos. A capacidade de se ocultar e se revelar. Não é totalmente ao acaso, por contrário, é tudo pensado.

Existem pessoas com quem deve se apresentar coberto pelo manto e aquelas que devem ver a luz brilhar. O fato é que a porta do coração é tão estreita que nem todos conseguem passar. A peneira e o funil são tão rígidos, que é cada vez mais difícil alguém penetrá-lo. Uma vida em que se há muitos conhecidos que reconhecem sua amizade, mas cujo reconhecimento pelo lado de cá é bem mais difícil tê-lo. 

A questão da vida é deixar que muitos te vejam, mas que poucos te conheçam, afinal, aqueles que caminham lado a lado conosco tem que ser escolhidos a dedo. Não por orgulho excessivo ou cuidado demasiado, mas por que se qualquer pessoa se aproximar, mais perto ficará de te apunhalar com palavras e com decepções comuns a todos que alimentam expectativas.

Falar de algo tão íntimo nem sempre é fácil para o próprio ser, mas para o amigo que está contigo há tanto tempo não é nenhum problema. Afinal, ele conhece seus olhares, prevê seus passos, sabe dos seus planos e o caminho que você quer trilhar para alcançá-los.

A descrição acima continua superficial e sempre será para quem não precisa conhecer profundamente. Aqueles que estão perto o suficiente não leem apenas as palavras, mas enxergam as entrelinhas, método que substitui o olhar em uma comunicação digital, mas que nunca alcançará completamente a dimensão de estar pessoalmente com o dono dos pensamentos.

Talvez não transpasse uma entrega de corpo e alma, mas por acreditar que aqueles que precisam do corpo e da alma já o possuem. Os demais devem ser tratados pelo lado de cá do tecido para provocar aquela sensação de querer descobrir algo a mais. Conquista que se consegue com o tempo, a convivência e a intimidade do processo olho no olho. Mentalidade talvez até ultrapassada, porém, mais preferível do que limitar o relacionamento e os pensamentos a dimensão de uma tela.

As palavras não foram projetadas e não é como uma linguagem informal e falada. Não por tentar expressar de tal forma, mas pelas diferenças gritantes entre tais processos de comunicação.

*Reflexão a pedido da amiga leitora Paula Fernanda, advogada e futura colega de profissão, que leu as entrelinhas e que tenho a grande honra de tê–la caminhando ao meu lado, há quatro anos.

Exposição do Artista Clóvis Hirigaray no Sesc Arsenal visitada por nós.

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