Houve um tempo em que deitávamos no sofá às uma da tarde e somente levantávamos às cinco, quando arrastando os pés começávamos a fazer os deveres de casa, seja os que os professores determinavam ou os pais. O que importa é que mesmo com tão pouca preocupação, achávamos um absurdo sermos tratados como adultos com tantas obrigações.
Após crescer, notamos que aquilo
não era nada comparado ao que estava por vir e que ficar de pernas pro ar tornou-se um direito
com prazo máximo estabelecido e tudo. Se não quisermos vender pulseirinhas na
praça ou adotar um estilo de vida cigano, temos que aceitar ficar 30 de 365
dias ao ano dessa forma, vagueando pelo mundo, sem ter hora pra dormir nem
acordar, dentre outros benefícios dos free
days.
Mas esses dias não são tão livres
assim. Nesse calor maravilhoso que me cerca desde 91, ficar deitada no sofá não
ajudava a minha sessão de relaxamento, resultado que seria contrário se eu
fosse agraciada com um ar condicionado. Como não foi o caso, procurei
aproveitar incansavelmente os rios, cachoeiras, piscinas naturais ou não, e
ainda bem que o fiz antes de serem interditados pelas queimadas intensas que (infelizmente) isolaram Chapada do mundo.
Têm aqueles que viajam muito, pra
diversos países e podem considerar aproveitar mais as férias do que eu. Um dia
chego lá. Mas enquanto isso, usei meu tempo pra apreciar a natureza linda que
Deus nos deu, seja observando as espessuras de uma folha que desce rio abaixo,
ou tentando descobrir desenhos nas nuvens. Deixando ser levada pela correnteza
ou tentando conter-me para continuar sendo massageada pela cachoeira. Ouvindo o
canto dos pássaros e os sussurros de um olhar. Falando (com) e ouvindo as
pessoas próximas. Visitando amigos de longe que há tempos não via. Assistindo a um filme e no intervalo olhando a beleza das
flores na sacada. E torcendo para o meu ypê-roxo finalmente florescer.
E posso afirmar que a felicidade
não está no quanto de dinheiro se gasta, mas em coisas simples, possíveis de ser
admiradas a qualquer hora, durante as férias ou não. E a falta de sensibilidade
nas pessoas faz com que carreguem uma vida deprimente, em que se trabalha em
função de 30 dias de descanso. A folga serve para descansar o corpo e a mente, pra
obter a paz no espírito é um processo mais interno. Por isso, temos que nos
esforçar para que todos os 365 sejam alegres e especiais, e quando se trabalha
com o que gosta, o sorriso ao final do dia é consequência, bem como o descanso
prolongado merecido.
Comentários
Postar um comentário